sexta-feira, 4 de março de 2011

Entre o Céu e o Inferno

Sam Cooke é um dos pais da Soul Music, um estilo que é uma síntese do Gospel e do Rhythm & Blues. Enquanto o primeiro tinha um aspecto religioso e devocional o segundo era mundano e despojado. Sam começou cantando louvores e terminou a vida falando sobre o amor sensual. Eis o porquê do título acima.

Samuel Cook nasceu no dia 21 de janeiro de 1931 em Clarksdale, Mississipi e era um dos oito filhos do ministro batista Rev. Charles e sua esposa Annie Mae Cook. Willie, Charles Jr., L.C., David, Hattie, Mary e Agnes eram seus irmãos. A família mudou-se para Chicago quando Sam tinha apenas 2 anos. Aos 9 ele formou com os irmãos L.C., Mary e Hattie um grupo Gospel chamado The Singing Children. Na adolescência, Sam e L.C. começaram a cantar no grupo vocal da comunidade batista da qual faziam parte chamado The Highway QC's. Quando haviam grupos Gospel visitantes, os irmãos Cook faziam as honras da casa cantando as partes principais. Esse grupo ainda contou em suas fileiras com dois futuros nomes do Soul: Lou Rawls (que assumiu a vaga de Sam) e Johnnie Taylor. Em 1949, Sam entrou para o The Soul Stirrers, grupo fundado em 1936 e que já tinha alguns discos Gospel gravados. O irmão L.C. também deixou os Highway QC's para cantar num grupo de Doo Wop chamado Johnny Keyes and the Magnificents. Nesse grupo, Sam iria começar a entrar em evidência como primeiro tenor e cantor principal, vaga que herdou quando o cantor principal deixou os Stirrers em 1950, para formar um outro grupo. Sam além de uma bela voz tinha uma aparência bonita que deixava [principalmente] o séquito feminino das igrejas apaixonado. Os Stirrers tinham contrato com a gravadora Specialty Records que tinha uma parte dedicada ao Gospel. Isso graças a J.W. Alexander, cantor do The Pilgrim Travelers que impressionado com o potencial do jovem, indicou o grupo para aquela gravadora. O grupo gravou pérolas do Gospel como Wade in the Water, Amazing Grace, Stand By Me Father, Jesus Paid the Debt, Peace in the ValleyTouch the Hem of His Garment, entre muitas outras.

Em 1956, Sam gravou seu primeiro single popular, Loveable no qual teve que usar o pseudônimo de Dale Cooke para não desagradar seus admiradores do meio Gospel. Em 1957, ele saiu dos Soul Stirrers e foi substituído por Johnnie Taylor (que havia cantado nos Highway QC's). Passou a usar seu nome de bastismo acrescido de "e" no final. Começava assim sua carreira fora do meio Gospel. Seu single seguinte foi You Send Me (que tinha como lado B Summerttime do musical Porgy & Bess de George Gershwin).

Em 1958, casou-se com sua namorada de infância Barbara Campbell, cerimônia essa realizada pelo pai de Sam. Desse enlace nasceram Linda, Tracey e o caçula Vincent. Por conta do sucesso do single, Sam foi ao programa Ed Sullivan Show e teve uma temporada no Copacabana, famoso clube de New York. Então, começou a excursionar junto com algumas lendas do Rock e Rhythm & Blues como Buddy Holly & The Crickets, Jackie Wilson e Little Richard.

Em 1961, fundou sua própria gravadora a SAR Records, subsidiária da RCA Victor, onde gravou seus maiores sucessos: Cupid, Everybody Loves to Cha Cha, Only Sixteen, Wonderful World, Chain Gang, Most of All, Another Saturday Night, Twistin' The Night Away e Bring It on Home to Me (onde o amigo e ex-Highway QC's Lou Rawls fazia os backing vocals). A gravadora de Sam foi responsável pelo surgimento de nomes como Bobby Womack (outro grande amigo de Sam) e The Valentinos além de Rawls e Taylor, ironicamente seus substitutos nos grupos Gospel dos quais fez parte. Aquele tipo de música com o apelo Gospel mas com letras que falavam de amor carnal agradaram em cheio a muitos admiradores. Sam Cooke acabou se tornando uma grande referência para a comunidade negra americana e um dos primeiros a apoiar a luta pelos direitos civis e contra a desigualdade racial [sua canção A Change is Gonna Come é um hino da luta contra o preconceito].

Em 1963, a tragédia pairava sobre a vida de Sam quando seu filho Vincent, de apenas 3 anos, morreu afogado na píscina o que causou um abalo em seu casamento por ele culpar a esposa  Barbara pelo ocorrido. Para amenizar a dor, ele mergulhou nos shows que fazia. Aquele homem que parecia apaixonado aos olhos de seus espectadores era uma pessoa amargurada e marcada pela perda de um ente querido.

Em 1964 fez um inusitado duo com o consagrado lutador Cassius Clay (mais conhecido atualmente como Muhamad Ali) numa música chamada I Am The Greatest. Nessa época Sam tinha contatos com o líder negro Malcolm X. Em março daquele ano, nova tragédia: Sam foi assassinado com um tiro dado por Bertha Franklin, proprietária de um hotel onde ele estava hospedado. Segundo a mulher, o cantor a teria atacado e ela atirou nele para se defender. De qualquer forma, sua morte significou uma perda muito sentida para seus admiradores e amigos e para a Soul Music que se consolidaria no final da década de 60. Sua viúva se casou com Bobby Womack. Aretha Franklin, a quem conheceu quando ainda estava nos Soul Stirrers e que foi sua protegida se tornaria um dos maiores nomes da música negra.

O legado de Sam tem se mantido vivo não só graças a lendas do Soul como Wilson Pickett, Sam & Dave, Rufus Thomas, Solomon Burke, Otis Redding, Jackie Wilson, Bobby Womack e Gene Chandler como por músicos das mais diversas tendências como John Lennon, Paul McCartney, Art Garfunkel, Michael Bolton, James Taylor, Eric Burdon, Jim Croce e Rod Stewart, todos grande admiradores do carismático cantor.
Fontes:
Wikipedia (em inglês)
http://www.history-of-rock.com/cooke
http://www.songsofsamcooke.com/

Sam Cooke: uma das grandes vozes do Soul

Nenhum comentário:

Postar um comentário