quinta-feira, 3 de março de 2011

A Balada dos Mamonas Assassinas

Começo o post como se fosse o título de uma canção, como por exemplo The Ballad of John & Yoko (Beatles) e The Ballad of Peter Pumpkinhead (XTC), lembrando que nesta data, há 15 anos atrás, o Brasil e o Rock and Roll perdiam uma de suas mais talentosas e irreverentes bandas de todos os tempos.

Tudo começou no final dos anos 80, onde o chamado Rock Brasil havia se tornado uma tendência forte na metade daquela década. Os roqueiros brasileiros viram nascer uma geração de músicos que se tornaram sua fonte de inspiração: Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Titãs, Ultraje a Rigor, Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens e Blitz, entre outras. Muitas bandas do underground também entraram em evidência como Garotos Podres, Ira!, Inocentes, Plebe Rude e Ratos de Porão.

Como qualquer aspirante a jovem aspirante a músico daquela década, o baterista Sérgio Reoli de Guarulhos-SP, conheceu, através de um colega de firma, Maurício, o guitarrista Bento Hinoto (seu irmão). Os dois garotos eram fãs incondicionais de Legião e Titãs, além da banda canadense Rush e tencionavam formar uma banda com levada roqueira e progressiva. Os ensaios da dupla eram acompanhados pelo irmão de Sérgio, Samuel Reoli, que naquela altura queria distância de música, preferindo desnhar aviões. Com o tempo, ele acabou sendo fisgado pelo som dos amigos e acabou aprendendo a tocar baixo. A dupla virou trio e recebeu um nome: Utopia. Sua pretensão era tocar covers de seus ídolos. Num dos shows do Utopia, alguém pediu para que eles tocassem Sweet Child O' Mine, um sucesso dos Guns 'n' Roses, que naquela época era mania entre os jovens. Como a banda não conhecia a letra, pediram a alguém da plateia que subisse para cantar. Foi aí que entrou em cena um tal de Alecsandro Alves, vulgo Dinho, que subiu ao palco e mostrou desenvoltura cômica ao"interpretar" Axl Rose, vocalista do Guns. Nascido na Bahia, o rapaz foi morar em Guarulhos ainda bebê. Ele tinha feito uns bicos e até trabalhou em campanhas políticas de candidatos locais.

A performance de Dinho impressionou o público e o Utopia, que convidou-o a entrar na banda. Dinho acabou apresentando seu amigo, o tecladista Julio Rasec. Levando em conta que eles tocavam um som progressivo, alguém que tocasse [e tivesse] um teclado era uma mão na roda. Não pensaram duas vezes e Júlio estava dentro. Além dos covers, a banda começou a investir em composições próprias.

Em 1992, gravaram seu primeiro disco de forma independente com suas músicas próprias. resultado: venderam apenas 100 cópias. Mas isso não os fez desistir de seu sonho de ser uma banda bem sucedida. Consta que nesse ano, eles queriam tocar num estádio chamado Pascoal Thomeu Thomeuzão e ouviram um sonoro não do dirigente como resposta. Tiveram ainda que aguentar o sujeito dizendo que a banda jamais faria sucesso.

Com o passar do tempo, a banda começou a ver que suas músicas mais sérias não estavam emplacando e que o público gostava das paródias e músicas engraçadas. Decidiram apostar na veia cômica de seu vocalista e o resultado foi um número cada vez maior de seguidores e fãs da banda. Foi nesse momento que eles conheceram o produtor Rick Bonadio. O Utopia subiu no telhado e nasceram Os Mamonas Assassinas do Espaço (o último nome foi limado logo depois).

Em 1995, após enviar fitas demo contendo músicas como Robocop Gay, Jumento Celestino e Pelados em Santos às gravadoras Sony e EMI, ouviram primeiro um "não" do diretor artístico dessa última, João Augusto Soares que achava, numa primeira impressão, que bandas como eles tinham aos montes no País. Ele estava ouvindo a fita demo da banda de forma desinteressada quando seu filho, Rafael, que tocava bateria numa banda chamada Baba Cósmica, gostou do som e pediu a fita. Depois de ouví-la, Rafael persuadiu o pai a ver uma apresentação da banda. João, meio a contragosto foi conferir e gsotou do que ouviu. A fita gravada não fazia justiça ao som tocado ao vivo. Resultado: contratou Os Mamonas Assassinas.

O disco gravado pelos mamonas, com produção de Bonadio (que recebeu o apelido de Creuzebek) tinha algumas coisas muito engraçadas e inusitadas como o fado-rock Vira Vira que nada mais era do que uma manjada piada de português cantada; Pelados em Santos um pseudo-brega, responsável por divulgar várias coisas que se tornaram marcas registradas da banda como a Brasília amarela e o uso de gírias como "da hora" e "pitchula";1406, uma brincadeira a la Titãs com comerciais de televendas, muito em voga na época;  Jumento Severino com estilo que remetia a Raimundos [banda brasiliense que faria muito sucesso anos depois], Bois Don't Cry, uma escrachada paródia às duplas sertanejas; Robocop Gay, uma citação non sense a uma das influências da banda, filmes de ação [no caso Robocop];  a zombaria com os estereótipos nordestinos, com uma levada evocando Should I Stay Or Should I Go do The Clash; Sábado de Sol, um cover do Baba Cósmica [do Rafael que influenciou na contratação da banda]; sabão Crá Crá com suas rimas cheias de molecagem e Lá Vem o Alemão, sacanagem geral com os grupos de pagode. Outra coisa que era uma característica fundamental na banda era seu figurino, baseado em personagens de desenhos animados, histórias em quadrinhos e seriados: Jornada nas Estrelas, Robin, Pernalonga, Irmãos Metralha, Chapolin Colorado e He-Man. Não podia dar outra: sucesso total!

A divulgação do disco [numa época em que a Internet brasileira apenas engatinhava] teve retorno e eles chegaram a vender 1.000.000 de discos, o que os tornou um fenômeno midiático,aparecendo em alguns programas de TV da época como o Jô Soares Onze e Meia, DomingoLegal e Domingão do Faustão,entre outros, veículados nas principais emissoras de TV (Globo e SBT). Um dos grande momentos da história da banda foi seu retorno heróico a sua querida Guarulhos e um show no famigerado Thomeuzão,onde ouviram aquela crítica que ao invés de fazê-los desistir só aumentou sua perseverança. Dinho fez um desabafo comovente que fez o povo da cidade amar ainda mais aqueles meninos.

No final de 1995, os Mamonas eram uma das bandas mais amadas do Brasil, principalmente pelas crianças. Eles começavam a pensar no segundo disco, que seria gravado tão logo terminassem os compromissos da turnê. Uma boa notícia: os nossos irmãos d'além mar queriam conhecer os Cinco Garotos de Guarulhos e foi marcada uma viagem a Portugal, logo após um show feito no Estádio Mané Garrincha em Brasília. Após o final do show, a banda não imaginava que estava se despedindo de seus fãs para sempre. O avião que trazia os integrantes de volta a São Paulo fez uma arremetida errada e o aeroplano bateu na Serra da Cantareira. Resultado: todos os membros da banda e o piloto morreram na hora. O dia 2 de março de 1996 foi um dia de luto para todos aqueles que tinham se acostumado àqueles talentosos meninos.

Passados 15 anos de sua morte, nunca mais apareceu outro grupo ou artista com o mesmo carisma e talento que os Mamonas Assassinas. Fica aqui nossa homenagem a eles.

Fonte:
Wikipedia

Mamonas: indo audaciosamente onde nenhum brasileiro jamais esteve

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